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OS PELADEIROS E O RESULTADO DAS ELEIÇÕES

Por: Robson Anselmo

                          OS PELADEIROS E O RESULTADO DAS ELEIÇÕES

        O futebol é com certeza uma expressão significativa da cultura brasileira. Falam-se até que todo brasileiro é técnico de futebol. Essa mania nacional é vista em todos os recantos do país, nas ruas de asfalto das cidades, nos campos de várzea nas periferias, nos apicuns das pequenas cidades do interior, até nas aldeias indígenas. O futebol é mesmo uma marca do nosso povo.

         A organização dos grandes clubes, das federações estaduais e a CBF correm longe da dimensão desse esporte na vida nacional. Basta ver os inúmeros times de peladeiros espalhados Brasil afora e as incontáveis partidas nos finais de tarde, aos sábados, domingos, feriados e dias santos.

         Há uma lógica na organização dos peladeiros e das peladas que desafia a razão. As partidas que acontecem, religiosamente, aos sábados e domingos, começam a ser organizadas na quarta-feira. A partir da quarta escala-se o time, define o time adversário e fazem todo tipo de gozação entre os jogadores, fazem apostas, especulam sobre o resultado. Essa resenha vai até o momento da partida, quando as posturas e as feições se alteram, tomando ares de seriedade. Passada a partida, toda a resenha recomeça com os comentários, críticas, gozação referente ao desempenho dos times e dos jogadores e do jogo em sua totalidade, que tenha ocorrido no sábado ou no domingo. Esse lenga-lenga se estende até a próxima quarta-feira, quando o ciclo se renova para tratar do jogo seguinte.

        O intervalo entre uma partida e outra é repleto de acusações, xingamentos, críticas aos jogadores do próprio time. Quanto ao árbitro, nem falem. Quantas mães o dito tem que ter para ser achincalhada.

        No entanto, por mais que o tal time tenha sido fragorosamente derrotado, todo o plantel, a partir da quarta-feira, lá está na roda da resenha confabulando como será a próxima partida. Todos estão definindo quanto será o pró-labore do arbitro, quanto cada um terá que contribuir, avaliam as condições bola e a bomba de ar para enchê-la. E se caso tenha fardamento, quanto em R$ será necessário para pagar à lavadeira. Ou até mesmo, a mãe, irmã, ou esposa do cabra mais legitimado do grupo, faz a lavagem.

        O perfil dos peladeiros em grande maioria é de pessoas de pouco estudo. Pois, a paixão por futebol sempre foi mais forte que a consciência do papel da escolarização. São trabalhadores braçais, de baixa remuneração, subempregado, biscateiros. Pessoas que não tiveram oportunidades amplas de acesso ao pleno estatuto de cidadania. Em muitos casos, somente são reconhecidas como cidadãs no momento de votar nos pleitos eleitorais.

           Essa condição não é motivo para que subvertam as regras ou o resultado do jogo. Em muitos casos, as linhas demarcatórias do campo nem existem visualmente. Estão impressas na mente de cada jogador, na do árbitro e até na mente dos torcedores. Mas, todos respeitam a saída da bola para a lateral, para o escanteio, bem como a linha de impedimento. Por mais que bradem contra a arbitragem, a palavra final é do juiz, que mesmo nessas condições do campo ele sabe exatamente a linha de batida do pênalti.

             Terminado o jogo, quem perdeu vai para o mesmo barraco o mesmo bar comemorar o jogo. É claro que o time perdido vai para a comemoração meio cabisbaixo, porque perder nunca está nos planos de quem joga. Mas respeitam o resultado do jogo. Ninguém se aventura em proclamar-se vencedor quando o arbitro, os torcedores de ambos os lados e outros passantes observadores formam o consenso de que foi jogado um jogo limpo e que não houve empate. Um ganhou e ou outro perdeu. E ao perdedor resta fazer a auto-crítica, avaliar suas estratégias de jogo, a escalação do seu time, o “espírito” com que entra no jogo e aprender com a derrota.

PROF. ROBSON ANSELMO – Coordenador do INSTITUTO BRAÇOS.

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